7 de novembro de 2013

ARTIGO DO BISPO "Morrer é o fim ou o começo?"

Na tradição católica, o dia 2 de novembro é dedicado aos irmãos e irmãs que já deixaram a convivência conosco: Dia de Finados!
Na experiência terrena, a morte existe como fim natural e como resultado da cultura egoísta, ameaçando sempre a vida. Mas de algum modo queremos vencê-la. Tentamos devassar seu véu impenetrável e nos perguntamos: o que será de mim após a morte? O que nos espera ou o que esperamos? Será que vivemos para o nada? A ciência não tem resposta. O desconhecido nos angustia e rejeitamos o pensar na morte, mesmo se a mensagem cristã anuncia a vitória da vida pela ressurreição de Cristo. Acreditamos, sim, em Deus, sem desejar ir logo ao seu encontro. No entanto, estamos morrendo cada dia. A perspectiva desse fim é a certeza que desafiou até hoje o orgulho da ciência humana. A convivência social disfarça habilmente o horizonte da morte e deixa de lado a esperança da ressurreição. "Aproveite a vida e suas diversões!" O consumismo e outras "fugas" são mais atraentes. Ao redor de nós, as pessoas se atiram aos trabalhos, prazeres, atividades, a uma agitação frenética. Funerais e velórios são perda de tempo. Quanto mais cedo se desfazer do defunto melhor para todos: "A vida continua"! Vive-se para a terra como se de fato tudo acabasse na hora da morte. Mas, vale a pena viver sem futuro?
A comemoração dos fiéis defuntos, o dia cristão de Finados, nos convida a crer na vida que venceu a morte. E a celebrá-la! Para tanto é preciso saltar do material ao transcendental. Aí, talvez, o feriado de Finados não nos ajude. A ida ao cemitério deve romper antes o cerco da feira. Vendem-se flores, vasos, velas, água, refrigerantes, bebidas alcoólicas e até melancias (o dia costuma ser de muito calor...). A cidade secular dos vivos explora a saudade como chance de lucros fáceis. Vem à mente a fina ironia de São Paulo em 1Cor 15,32: "Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos"! Dentro do cemitério túmulos imponentes junto a túmulos rasos. Os vivos prolongam a discriminação até na lembrança dos defuntos.
Ora, "defunto" (do latim defunctus) é quem deixou suas funções na terra. Mas está vivo. Entrou na realidade da vida definitiva, pertencente só a Deus. Jesus foi um "defunto": é o primogênito dos irmãos defuntos. A rigor, Finados não celebra a morte e sim a vitória de Jesus sobre ela. Celebramos "com" e não "pelos" defuntos. A Eucaristia dá-nos o momento privilegiado de afirmar a nossa identidade fundamental com Jesus. Ela não é celebrada "em favor de Jesus", mas "com ele". "Se os mortos não ressuscitam, nem Cristo ressuscitou!" (1Cor 15,16). Teólogos e pastores de almas repensam hoje as fórmulas dos ritos fúnebres: exéquias, encomendações, velórios, pois não se pode esquecer que a misericórdia de Deus é anterior aos nossos pedidos.
Não podemos "comprar" a salvação dos falecidos com orações, mas às vezes o formulário delas parece insinuar isso. Passando pela morte e ressuscitando Jesus nos oferece uma resposta sobre a sobrevivência à morte e à violência que mata. O nosso morrer é "morrer para dentro de Deus". Ou como disse Santa Teresinha: "Não morro... entro na vida!". Acima da saudade dos falecidos o cristão anuncia ao mundo que o Deus de Jesus Cristo nos salva da morte! Morrer já é ressuscitar. Essa é uma questão da fé!
Dom Bernardino Marchió
Bispo diocesano de Caruaru-PE
FONTE: JORNAL VANGUARDA (CARUARU-PE)

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