10 de outubro de 2010

ARTIGO DO BISPO "A Vida é Bela"

O povo brasileiro está se preparando para o segundo turno das eleições e uma grande questão se deve pôr aos candidatos: qual é o seu compromisso pela vida? Nestas minhas reflexões não estou fazendo uma opção partidária, quero apenas oferecer aos leitores uma oportunidade para meditar sobre algo fundamental para quem se diz católico.
Por decisão da CNBB, a Igreja no Brasil realiza cada ano, no início de outubro, a semana pela defesa da vida. Não é que somente nesta semana devamos fazê-la, mas todos os dias, ao longo do ano inteiro. Os cristãos são chamados a escolher, amparar, defender e proteger a vida: "escolhe, pois, a vida", recordava-nos a Campanha da Fraternidade em 2008. Nós cremos no Deus da vida, que ordenou - "não matarás" - e somos discípulos daquele que é vencedor da morte e restaurados da vida: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
"A semana de defesa da vida, porém, tem um significado específico para nós: manifestamos nosso grito de alerta diante dos desprezos, ameaças e agressões contra a vida humana e, assim, queremos desenvolver mais e mais uma cultura favorável à vida humana. De muitas formas a vida humana é desrespeitada e ameaçada pela miséria, que não permite viver dignamente; pelos vícios, que estragam a saúde e roubam a vida prematuramente; pela violência difusa, de tantas formas, onde muitas pessoas perdem a vida de maneira trágica; pelo aborto, que ceifa um número assombroso de vidas inocentes e indefesas. Não podemos ficar indiferentes diante da cultura de morte, que faz, inclusive, negócios muito rentáveis com o comércio de morte! Lembramos a advertência do Papa Bento XVI, na fazenda da Esperança, no dia 12 de maio de 2007, contra os que tiram lucros vultosos do comércio da droga: deverão dar contar a Deus pelas vidas que fizeram perder em decorrência desse comércio de morte!
Muito grave é a questão do aborto provocado. Há projetos de lei para legalizar essa prática, até mesmo para que possa ser realizada com dinheiro público! Há mesmo quem argumente que isso é um "direito humano". Tirar a vida de seres humanos inocentes e indefesos seria um direito humano?! Fala-se em "despenalização", ou "descriminalização" do aborto, ou em "interrupção da gravidez", ou "parto antecipado". São formas de linguagem que escondem a realidade, mas o objetivo e a dura realidade é a mesma: a supressão da vida de um ser humano inocente e indefeso. A interrupção da gravidez ou parto feito antes de certo tempo de gestação levam inevitavelmente à morte do feto, ou bebê. Espalhou-se o uso da pílula do dia seguinte (método contraceptivo de emergência), que também pode ser abortiva se já houve fecundação após uma relação sexual.
Há quem argumente pelo direito que as mulheres teriam para decidir sobre seu corpo; tratando-se de uma gravidez, há nisso um equívoco primário, pois o feto ou bebê que a mulher traz no seu útero não é parte do seu corpo, mas é um outro corpo, diverso do dela; melhor dito, é um outro ser humano, diverso dela; a natureza da mulher recebeu de Deus a bela e gratificante missão de acolher a vida, de dar-lhe condições para nascer, de amparar e proteger esta vida frágil. Evidentemente, se somos contrários ao aborto, não significa isso que queremos a todo o custo o castigo das mulheres que, por alguma razão, o praticam. Mas como proteger a vida nascente, se o aborto fosse legalizado? A defesa da vida, além disso, também requer a cobrança das autoridades para que o Estatuto do Nascituro seja aprovado quanto antes e que seja usado o rigor da lei contra as clínicas clandestinas (ou pouco clandestinas), que exploram o comércio do aborto para tirar lucros.
Defender a vida sempre: a vida é bela também quando traz desafios!
Dom Bernadino Marchió
Bispo Diocesano de Caruaru
FONTE: JORNAL VANGUARDA (CARUARU-PE)

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