19 de novembro de 2013

ARTIGO DO BISPO "Papa Francisco e a reforma da Igreja"

No próximo domingo (24), a Igreja Católica vai encerrar o Ano da Fé, iniciado em 11 de outubro de 2012 por ocasião da comemoração dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II. Ao longo deste ano aconteceram dois fatos inesperados: a renúncia de Bento XVI e a eleição do primeiro papa latino-americano, o cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio. E, hoje, muitos se perguntam: o papa Francisco vai reformar a Igreja?
Reforma e renovação fazem parte da dinâmica da vida da Igreja. Embora dotada de uma missão sobrenatural e de dons divinos, ela é uma realidade humana e, como todas as organizações humanas, também precisa se renovar para acompanhar melhor as circunstâncias históricas e sociais em que está inserida.
A Igreja crê ser orientada não apenas por projetos humanos, mas pelo espírito de Deus, que "renova a face da terra" e também da Igreja. Nesse sentido, o Concílio Vaticano II já afirmava, há 50 anos, que ela é uma realidade que precisa reformar-se constantemente.
O conceito de reforma pode causar desconfiança e até resistência, quando não for bem entendido. Há o temor de que a busca de reforma signifique trama contra o passado ou até mesmo infidelidade ou traição a ele. Pode haver também a identificação pura e simples de reforma com movimentos de ruptura com a Igreja; nesse sentido, lembra-se logo a reforma protestante, de Lutero e Calvino, no século XVI. De qual reforma está se tratando nas atuais circunstâncias da vida da Igreja?
Ao longo da história da Igreja, muitas foram as reformas na Igreja; e, quando elas foram levadas a sério, a Igreja saiu rejuvenescida e revitalizada. Grandes momentos de renovação foram, por exemplo, a reforma gregoriana, promovida por Gregório VII, no século II, a reforma tridentina, após o Concílio de Trento, no século XVI, e a reforma desencadeada pelo Concílio Vaticano II.
É justamente ao espírito desse concílio que o papa Francisco está se refazendo, no seu intuito de renovação da Igreja. A Igreja precisa de uma reforma interior nas convicções e posturas. Não basta reformar a Cúria Romana ou o Banco do Vaticano.
O papa Francisco tem falado com insistência dessa "reforma" interior, ao dirigir-se aos diversos setores da vida da Igreja. Exortou os jovens, reunidos em Copacabana, a manterem firme a esperança, a serem fiéis a Jesus Cristo e a não terem medo de ir contra a corrente; em Assis, falando da vida humilde e simples de São Francisco, alertou para o "mundanismo" e as vaidades, que podem tomar conta da vida dos cristãos, também dos eclesiásticos...
Da mesma forma, ele indica com insistência aos gestores de organizações administrativas da Igreja o caminho da retidão, da honestidade e da justiça no cuidado dos bens necessários à realização da missão da Igreja. Aos que desempenham cargos de responsabilidade, lembra que a autoridade deve ser exercida como um serviço ao próximo. E recorda a todos o valor profundo de cada pessoa e o respeito por toda vida humana, ainda mais quando exposta a fragilidades e riscos.
Chamando a Igreja à vida coerente com o exemplo e os ensinamentos de Jesus Cristo, ele aponta para as reformas mais lentas e difíceis; e essas não são feitas por decreto, nem dependem apenas do papa Francisco...
Dom Bernardino Marchió
Bispo diocesano de Caruaru-PE
FONTE: JORNAL VANGUARDA (CARUARU-PE)

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