12 de novembro de 2013

ARTIGO DO BISPO "A vida é um jogo de amor e dor"

O mês de novembro, que começa com o Dia de Finados, nos faz refletir sobre o sentido da vida, o envelhecimento e a morte que se aproximam. Sem nenhum drama, é preciso refletir sobre essas realidades.
Diante da condição do envelhecimento humano, acompanha o medo de ser inútil, de se tornar um peso, de viver abandonado, na solidão das ausências daqueles que amamos. Nada mais decepcionante do que chegar ao fim é ter a sensação de que não valeu a pena ter vivido. A vida é um jogo de amor e dor, é um desafio que se renova todos os dias.
Ninguém vive sem amar. Amando fazemos da vida uma constante superação do humano, inclusive da dor, que amada e assumida como própria, se transforma em amor. Como se preparar para viver a complicada sensação de inutilidade? Não existe receita pronta e sim caminhos que, durante o passar dos anos, vamos aprendendo a percorrer. Nesta escola da vida nem sempre estamos preparados para aprender as lições que a inutilidade nos prepara.
É difícil aceitar o delicado tempo da inutilidade. É preciso viver com dignidade esse terreno perigoso, mas necessário de sentir-se inútil. Uma graça a pedir a Deus é que, quando chegar a velhice e perdermos a utilidade, que tenhamos alguém ao nosso lado que nos ame de verdade.
Só será capaz de amar aquele que depois da inutilidade descobrir o valor da velhice. Nunca seremos valorizados pelo que fazemos e sim pelo que somos. Ninguém, mesmo que tenha construído os mais belos edifícios, escrito as mais belas obras literárias, ter deixado o acervo cultural mais importante, vai ser amado pelo que fez e sim por aquilo que é. O valor não se conquista, ele existe, e por ele vale a pena viver.
Quanto tempo perdido atrás de coisas, de superficialidades, de aparências e máscaras acobertando o que de mais belo possuímos: a capacidade de amar, mesmo na inutilidade da vida. "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca" (Carlos Drumond de Andrade).
De que adianta ganhar o mundo, quando perdemos a eternidade? O eterno só existirá se formos abertos em acolher no difícil terreno da vida o valor e não a utilidade. Será digno da eternidade aquele que for capaz de dizer: "Você não serve para nada, mas eu não sei viver sem você" (padre Fábio de Melo).
O Mestre Jesus, em tom de despedida, entrega uma nova lei, resumo de todas as leis: "Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei a vocês, vocês devem amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (Jo 13,34-35).
Queira Deus que, ao chegar ao fim, tenha alguém que seja capaz de nos olhar e dizer: eu te amo, conte comigo, não sei viver sem você. Envelhecer sim, mas nunca perder o valor. E preparar o encontro definitivo com Deus sem ter medo, porque vivemos para amar servindo a todos!
Dom Bernardino Marchió
Bispo diocesano de Caruaru-PE
FONTE: JORNAL VANGUARDA (CARUARU-PE)

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