11 de janeiro de 2014

ARTIGO DO BISPO "Vocação para a Fraternidade"

Começamos a semana passada uma reflexão sobre o tema que papa Francisco escolheu para o Dia Mundial da Paz: "Fraternidade, fundamento e caminho para a paz".
Francisco, depois de ter falado dos anseios da humanidade que busca novos caminhos para o diálogo entre os povos, reconhece que ainda há muitas dificuldades a serem superadas.
Em muitas partes do mundo, há grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático tormento do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados, juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos econômico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.
A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do "descartável" que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados"inúteis".
Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum, como seu fundamento último, não consegue substituir. Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento dessa paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se "próximo" para cuidar do outro.
Em seguida, o papa lembra a história bíblica de Caim, que mata Abel e comenta:
‘‘A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.
Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizamos os irmãos e as irmãs''? E a resposta é clara: se aceitamos Deus como Pai, só podemos viver como irmãos.
A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens.
Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro.

Dom Bernardino Marchió
Bispo Diocesano de Caruaru - PE
FONTE: JORNAL VANGUARDA (CARUARU-PE)

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